O Hábito de Viajar e os Girassóis de Van Gogh

19 de março de 2020

Em meio a tantas viagens desmarcadas, sonhos frustrados e um prejuízo monstruoso na área do turismo, vou me atrever a falar do hábito de viajar! Sim, para muita gente, viajar virou hábito. E isso não é necessariamente uma coisa ruim. Mas que tal falarmos também sobre falta ou privação? Estudos de psicólogos apontam que a privação tem um papel importante em nossa felicidade. Aparentemente, sentir falta de algo é essencial para não banalizarmos os bons momentos. É necessário ter falta para se ter desejo!

Então, vou contar de um caso pessoal que me fez perceber que às vezes é preciso desacelerar e desejar mais...

Durante muitos anos, viajar não passava de um sonho. As revistas de viagem se acumulavam no meu armário, assim como os livros de pintores famosos, que eu amava! Meu favorito sempre foi Van Gogh e sua obra mais icônica - Os Girassóis - era meu sonho de consumo. 
Uma vez, cheguei a fazer visita guiada ao Masp e quando me deparei com um quadro de Van Gogh, fiquei emocionada por saber que aquelas pinceladas tinham sido feitas por alguém com um vida tão intensa e ao mesmo tempo tão conturbada.

Lembro também que uma das primeiras vezes que tive acesso à internet, tentei fazer uma visita virtual ao Museu do Louvre, o que foi meio difícil - alguém lembra da internet discada? (rs)
O tempo passou e as viagens começaram a acontecer. Conheci o Louvre pessoalmente, assim como outros museus maravilhosos - D'Orsay, Vaticano, Metropolitan, Moma... Mas os girassóis ainda continuavam na minha lista de desejos.

Quando planejava uma viagem para Londres, pesquisei sobre os museus e descobri que uma das versões dos Girassóis estava na National Gallery. Imagina a animação da pessoa aqui! Claro que coloquei no meu roteiro. 
Lá fui eu sozinha em uma tarde, quando os meninos voltaram para descansar no apê. Chegando à National Gallery, descobri que algumas salas estavam fechadas para restauração. Mas felizmente não era o caso d'Os Girassóis. Ufa!!!


Afinal, achei a sala onde estava o bendito quadro. Olhei, admirei por alguns instantes. Pedi para um turista coreano tirar uma foto minha junto ao quadro. Desliguei o flash e posei. A foto ficou horrível! E o que restou para mim dos girassóis? Uma foto e uma lembrança igualmente "borrada".

Saí do museu em um misto de missão cumprida e decepção. Como eu podia esperar tantos anos para ver um quadro e, ao vê-lo, não sentir quase nada... Cadê a magia de quando fiquei minutos babando diante do Jardim das Delícias de Bosch, no Museu do Prado? O que estava acontecendo comigo? 

Saí de lá e no caminho de volta ao apartamento, eu não conseguia entender o que sentia. O quadro era lindo, mas era mais um quadro na parede, que havia sido embaçado por tantas ninféias de Monet, ou gritos de Munch e outros grandes artistas que eu já tinha visto em museus pelo mundo. Isso me incomodou de um jeito... afinal talvez eu já tivesse realizado meus maiores sonhos de viagem e viajar poderia ter se tornado simplesmente um hábito. 

E, assim, como na rotina do dia a dia, não paramos pra pensar ou sentir o que cada experiência significa. Simplesmente vamos no modo automático! Nos sentimos obrigados a gritar na montanha russa, ou gostar do doce servido no café número 1 da cidade, segundo o Trip Advisor. Ou tirar a mesma selfie diante da Torre Eiffel para postar no Instagram. E é nesse lugar que a magia acaba!

Como esta viagem ainda estava no começo, tentei não valorizar muito o episódio. Esqueci de "compromissos" de viagem e tentei deixar fluir... curtir as coisas como elas vinham. O resto da viagem correu bem. 

Voltei pra casa e não desisti de viajar (nem de mim... rs). Mas ficava com  aquela pontinha de dúvida: será que algum dia ainda vou me sentir como nas primeiras viagens, em que cada coisa era única e mágica? 

A resposta veio um ano depois: eu não estava diante de nenhuma obra de arte, mas do Grand Canyon. Este foi nosso primeiro destino no roteiro pelo Arizona e California. E vou dizer que foi quase um parto chegar até lá!! Meu filho estava se tratando de uma tosse alérgica que só piorou no voo e no hotel barato que nos hospedamos em Las Vegas. Se não melhorasse, talvez tivéssemos que acionar o seguro-saúde. 

Dia seguinte, depois de horas de estrada, finalmente chegamos ao destino e nos hospedamos dentro do parque. Uma caminhada curta e lá estávamos: diante daquela paisagem moldada por milhões de anos de erosão... 

Aquela sensação de alívio por ver que a viagem finalmente estava indo bem, a tosse do filhote estava melhor e estávamos em um lugar que sonhamos tanto em conhecer.
Olhava para a imensidão do cânion em suas cores mais lindas ao entardecer e não conseguia pensar em nada mais. Aí, as lágrimas que eu gostaria de ter derramado diante do Van Gogh finalmente brotaram! 

Desde então, eu entendi que viajar muito e pouco é bem relativo e pessoal... Afinal, isso não deveria ser competição, né? Se você consegue emendar uma viagem na outra e ainda assim consegue sentir algo diferente a cada destino, beleza! 
Mas meu ponto aqui é que, se por falta de grana, problemas pessoais ou por uma pandemia, tivermos que ficar quietinhos em casa, vamos passar por isso e talvez as próximas viagens tenham um sabor ainda mais especial!

No mais, eu gostaria de falar que o momento pede muito cuidado de todos. Mas o setor de turismo já está sofrendo um forte impacto. Então, se você tem viagem marcada por esses tempos, na medida do possível adie, mas não desmarque. 
E bora fazer a nossa parte, ficando em isolamento e lembrando de deixar espaço para desejar as próximas viagens! O mais importante nesse e em qualquer outro momento, são as vidas a serem preservadas!

Foto do quadro de Van Gogh: Flickr - Bill Damon
Foto de Capa: Pixabay

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12 comentários

  1. A gente passa a valorizar aquilo que perdemos, né? Texto maravilhoso e muito reflexivo! Adorei!

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  2. Lili, nem vi seu texto passar... que escrita envolvente! Obrigada por resgatar a importância desse aspecto no valor de uma viagem. O destino, o roteiro, a companhia são variáveis que também tem influência - e são eles que costumam receber maior dedicação, mas estar conectado ao que está acontecendo, realmente, merece mais atenção e carinho. A partir de agora, tenho certeza de que vou lembrar dos seus girassóis quando voltar a viajar. um beijão

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    1. Muito obrigada, Ana!!! Que honra receber este elogio de uma amiga que escreve tão bem, como vc! Bjs

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  3. Lili, realmente é isso, os lugares que eu mais esperei (idealizei) conhecer foram os que mais me decepcionaram. Mas nunca perdi o brilho nos olhos, pq só eu sei o quanto é duro conseguirmos viajar.
    Beijão

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    1. POis é, às vezes a gente cria muita expectativa, né? Que bom que vc não perde a empolgação!!!

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  4. Lili lindo texto! Idealizei muitos lugares e quando o sonho torna realidade era bom, mas não como imaginava e outros lugares pouco idealizados me fez ficar com olhos cheios d´agua como Vaticano, Foz do Iguaçu e Magic Kingdom (orlando).. louco isso né, um não tem nada a ver com outro rs

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    1. Verdade, Aline!!! Alguns destinos realmente surpreendem e às vezes até é o momento que estamos passando... Bjs

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  5. Adorei a reflexão. Acho que viajar sempre representou momentos incríveis em família para mim, estou morrendo de saudades de viajar e de fazer planos. Mas a próxima, quando acontencer, com certeza vai ter um gosto especial.

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    1. Eu também estou achando que a próxima viagem vai ser especial. Tomara que tenha o gostinho das primeiras viagens! Obrigada!!!!

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